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Conheça o Banco de Tecido

Uma das partes mais legais de ter um blog é conhecer pessoas e projetos especiais. Estava louca para dividir com vocês esses pequenos achados de lugares, marcas e pessoas ligadas à moda e à sustentabilidade.E é com grande estilo que apresento à vocês o Banco de Tecido!

o que é banco de tecido

Um lugar que abriga tecidos, vende tecidos, troca tecidos, onde uma amante dessa matéria-prima (euzinha aqui, por exemplo) pira mesmo! Você vai entender ao longo desse post a grandeza desse lugar, por enquanto, o que posso adiantar é que o Banco de Tecido é um estabelecimento onde você pode comprar diversos tecidos, depositar aqueles que você não usa mais e retirar em troca as sobras de outras pessoas. Entendeu?

banco de tecido são paulo vila leopoldina - os tecidos

Por lá você vai encontrar todo e qualquer tipo de tecido e em diversas formas (retalho, cortes grandes, rolos, peças cortadas e não costuradas, enfim, muitas…), por isso é bom ter em mente que não é uma loja de tecidos novos, onde você poderá escolher a quantidade e cor, todos os tecidos disponíveis são de reuso (isso quer dizer que já pertenceu à outra pessoa ou marca algum dia) e toda a mercadoria que eles possuem está bem ali, diante dos seus olhos.
Tudo é bem organizado por tipo e/ou cor de tecido, vale a pena xeretar em cada canto, porque você nunca saberá o que vai encontrar por ali. E pode ficar à vontade, retirar as caixas do lugar, colocar os retalhos no chão para enxergar melhor… a Andressa (que sempre está por lá) vai te ajudar em tudo o que você precisar e com muita simpatia.

como funciona o banco de tecido

A primeira vez que o visitei, foi para retirar meio quilo de tecido que havia ganho. Todos os tecidos por lá são vendidos por quilo, independente de composição, cor, origem, qualquer coisa, todo e qualquer pedaço de tecido será colocado junto à balança para o cálculo do valor à ser pago. Nesse mesmo dia eu achei tantos tecidos legais que acabei levando bem mais do que meio quilo e achei o preço super justo, nunca comprei tecidos tão bons por esse valor.

como funciona o banco de tecido balança e quilo

Já no dia dessas fotos eu levei alguns tecidos que estavam parados e virei uma correntista no Banco, isso quer dizer que posso depositar e retirar tecidos quando eu quiser. Funciona da seguinte maneira: você leva o seu tecido que será pesado todo junto, a casa fica com uma pequena porcentagem do peso e o resto fica em crédito para você retirar em novos tecidos. No mesmo dia levei esse tweed gracinha e deixei o resto dos meus créditos por lá, para resgatar em qualquer outro dia.
Então para você obter os tecidos existem essas duas maneiras: pagando com dinheiro ou trocando por outros tecidos.

entrevista lu bueno fundadora banco de tecido

Tive a oportunidade de bater um papo com a idealizadora e dona do Banco, a Luciana Bueno, e o resultado você vê logo abaixo ;)

Como surgiu a ideia do Banco de Tecido?

Surgiu de uma necessidade, não fui que tive a ideia, foi ela que me teve. Sou cenógrafa e figurinista, e foi desse trabalho que veio o início das sobras de matéria-prima, esses foram os primeiros tecidos a serem vendidos aqui no Banco, uma média de 500 quilos de acervo pessoal reunido durante anos de trabalho.Foi quando vi toda essa quantidade de tecido parado que pensei que algo tinha que ser feito, porque tecido é matéria-prima e todas podem ter um uso.
A ideia surgiu em 2013 e começou como uma troca de tecidos entre figurinistas, até que eu percebi a amplitude de público que esse negócio teria, afinal, muitas profissões além do figurinista precisam de tecido para trabalhar.
Chegou uma hora que um dos amigos figurinista me perguntou: “E se eu quiser comprar um dos tecidos, como faço? ” E então fizemos uma média de preço de mercado do quilo do tecido e resolvemos vender todos pelo mesmo preço porque todos têm a mesma origem: são sobras de alguém ou algum lugar.
Depois de um tempo vendendo para produtores, fechamos as portas para cuidar da parte burocrática e abrimos novamente no início de 2015 com o modelo atual.

Você se baseou em algum modelo de negócio que já havia visto?

Não, tudo surgiu puramente de uma necessidade.

E acho muita gente descobriu suas sobras em casa depois de conhecer o Banco de Tecidos.

Com certeza. O tecido acima de tudo é afeto. Se você compra um pedaço de tecido para fazer o seu vestido de noiva, quando sobra você não vai doar essa sobra, por apego ás lembranças. É muito difícil para quem lida com o tecido jogar ele fora, então trocar é uma ótima solução, porque o tecido encontrará alguém que também dará alguma importância a ele.
Defendemos também que o Banco não é simplesmente um sistema de trocas, por isso chamamos de correntistas as pessoas que depositam seus tecidos conosco. A ideia é que se forme uma corrente, um sistema de circulação em que a pessoa sinta que faz parte desse ciclo, onde ela sempre poderá contar com novos tecidos aqui e sentir que os seus tecidos depositados estarão seguros e bem guardados também. E hoje já somos mais de 200 correntistas.

E qual é o público que frequenta o Banco?

Muitos estudantes são atraídos por causa dos retalhos para pesquisas de coleção e pequeno trabalhos de faculdade, porque não existe nenhuma restrição quanto à quantidade para a venda dos tecidos. Existe o público que compra um corte para si e leva para a costureira fazer peças para ele mesmo. A própria costureira vem até nós para comprar algum tecido para suas clientes já conhecendo o gosto pessoal delas, além de depositar tecidos com frequência, porque elas também lidam com as sobras e assim aliviam os seus ateliês. Os artesões que produzem pequenas quantidades e precisam de diversidade, assim como os pequenos criadores de moda que lançam coleções apenas com tecidos encontrados aqui no Banco, usando o nosso selo certificando que aqueles são tecidos de reuso.
A grata surpresa do primeiro ano de negócio foi a grande aceitação do público e o entendimento que isso é um ciclo e que precisamos da participação deles.

Você acha que as pessoas estão começando a comprar mais tecidos?

Muito, muito mais. São vários casos: Tem a pessoa que está aprendendo a costurar quase como uma terapia, resgatando esse trabalho manual para tentar fugir do stress. Outras querendo resgatar essa feminilidade, por apego às maquinas da avó ou da mãe. E ainda tem uma questão importante: as roupas vendidas nas lojas não vestem todos os corpos e é quando a roupa sob medida ganha espaço.

A questão da sustentabilidade é um grande diferencial no seu negócio, como o cliente lida com esse fator?

Aqui entra todo mundo, desde quem tem uma consciência sustentável mais clara até quem procura diversidade e preço justo em matéria-prima. Porque mesmo sem ter a intenção de ser sustentável, você acaba o sendo e pensa: “Puxa, não é que funciona?”. Mas nada impede que a pessoa vá ao Brás comprar também e depois traga as sobras desses tecidos para cá.
Para quem é de uma linha mais tradicional do comércio e da indústria, enxerga a sustentabilidade como um problema a ser resolvido. E quando ele chega aqui e vê que pode renovar o seu estoque, isso passa a ser uma solução, fazendo com que comece a encarar a sustentabilidade de uma outra forma. Aquele tecido encalhado volumoso no estoque e desvalorizado, que não cabe em mais nenhuma coleção acaba voltando para o mercado, resolvendo várias questões. Hoje em dia ninguém quer deixar estoque parado.
Nessa crise o Banco de Tecido é uma ótima opção para o consumidor.
Sim, porque ninguém quer deixar o dinheiro parado. Aqui você tem a opção de trocar a mercadoria que você já possui por novas, ou comprar tecidos bacanas por um preço que você não acha no mercado. Todo mundo possui as sobras que movimentam o nosso negócio, desde pessoas comuns até pequenas e médias empresas de confecção que não tem interesse em manter o estoque parado.

Sobre consumo consciente, você acredita que é uma tendência ou uma mudança de hábito?

Acho que tudo é uma conexão, a nossa atual condição econômica aliada a um pensamento sustentável martelado há anos em nossas cabeças, além da divulgação e conhecimento sobre os trabalhadores escravos na indústria da moda, tudo isso contribuiu para um novo modelo de consumo.
Todas as áreas tiveram o seu tempo de questionamento, agora é a hora da área têxtil. Acredito na mudança de hábito porque está insustentável a questão da produção, porque a cadeia está muito desiquilibrada.
E ao meu ver o melhor caminho para um ponto de equilíbrio para o mundo é consumir o produto local, incentivando a produção local de pequenas e médias e não as gigantes quantidades.
E não estou falando apenas da área têxtil, tudo isso é muito mais abrangente, todas as áreas precisam se reinventar. Todo mundo precisa parar, se questionar e rever a sua maneira de consumo.

Para finalizar, manda um recado para quem quer abrir o próprio negócio.

Tem que ter coragem, não é para os fracos. Você vai trabalhar 18 horas, 20 horas por dia, não vai ter patrão, mas vai ser pior, vai ter cliente. O mais importante é você ter consciência de que vai trabalhar muito para valer e tem que acreditar, se você não acreditar não se impele. Depois do crer vem o fazer.
É preciso entender que a ideia é apenas o ponto de partida, que só se torna um negócio com trabalho, com as transformações diárias. Me falavam: “Vão roubar tua ideia. ” Mas com o tempo eu entendi que ideia não se rouba, porque uma ideia é só uma ideia. Se alguém roubar a sua ideia é porque ela tinha uma força de execução maior que a sua, talvez você nunca fosse executar. Só divulgue a sua ideia quando você se sentir seguro o bastante para executá-la, senão o risco é grande.
Além de ter que ser autocrítica para saber fazer as escolhas necessárias para que a sua ideia se mantenha ou não, porque ela também pode se comprovar uma ideia não tão boa e não adiante insistir. Ou ela vai se comprovando boa com alguns ajustes não previstos no início, mas que serão necessários para seguir adiante. É preciso ter a generosidade de entender que existe um caminho a ser ajustado, se preparar para deixar de lado coisas que você acreditava de lado para absorver outras, mas sempre mantendo o propósito do negócio, esse é o maior desafio.
Se você tem uma ideia, coloque-a para funcionar na hora em que você sentir que tem braço para impulsionar. Você tem que estar preparado para trabalhar muito!

luciana bueno e andressa burgos do banco de tecido

Agora pensa em uma conversa que rendeu e que vocês não viram nem um quarto por aqui, juro! O papo foi muito bom e só me fez ficar ainda mais admirada por tudo isso.

as parcerias do banco de tecido

Além dos correntistas “pessoas físicas”, o Banco abriga as sobras de algumas marcas muito legais! A Ecosimple, Flávia Aranha e Insecta shoes são algumas delas, você pode ter os tecidos dessas marcas, não é muito legal? Você não consegue o acesso facilmente à matéria-prima de marcas tão bacanas. Além de pequenas e médias confecções que também deixam os seus rolos por lá para darem vazão ao estoque.

parcerias banco de tecidos - ecosimple, flávia aranha e mais tecidos

Lembrando que nunca é garantido que você vai encontrar esses tecidos por lá, porque o giro é grande e a quantidade é limitada, então se o seu foco for esse é bom dar uma ligada antes.

Planos Futuros do banco de tecido

O espaço fica em São Paulo, onde possui dois endereços, um exclusivamente de vendas e a sede na Vila Leopoldina. A demanda de outros estados e cidades é grande, Curitiba já possui uma unidade, e para atender à essas pessoas, por enquanto, elas recorrem ao contato direto com o consumidor para a negociação dos tecidos.
Mas os planos para o futuro é a abertura de uma plataforma online e a abertura de novos espaços, então fiquem de olho!

Outra super hiper mega novidade é que o Bando de Tecido é um dos 10 projetos finalistas do desafio MUNDIAL “Tecendo a Mudança: Inovações para uma Indústria Têxtil Sustentável ” patrocinado pela ASHOKA e a C&A Foundation. O resultado sai em Maio e estou muito orgulhosa do Brasil estar representado por dois projetos, e um deles ser o Banco. Dedos cruzados e muito energia boa aí, pessoal.

o consumo consciente no banco de tecido

A sobra de tecido passa a ser encarado de uma outra maneira e volta ao mercado. Matéria-prima que podia ser considerada perdida agora é reaproveitada.
É inspirador ver projetos iguais a esse, faz com que eu acredite que ainda tem jeito.

Contato do Banco de Tecido:

Rua Campo Grande, 504, V. Leopoldina
de 2ª a 6ª das 9:30 às 18h
(Atendem aos sábados com hora marcada)

bancodetecido@lupa.art.br
11 4371-3283
Falar com Andressa Burgos ou Lu Bueno

Espero que tenham gostado, esse foi um dos posts que mais gostei (e me orgulhei) de fazer até agora.

Beijos,

assinatura 2015

Veja outros posts!

  • rodrigo
    16 de março de 2016 at 09:41

    Oi Bru, muito bom esse post. Já tinha ouvido falar desse projeto, mas nunca fui ao local… e olha que trabalho pertinho. rsrs
    Vou lá na hora do almoço dar uma conferida e ver como funciona. Como gosto de costurar em casa, fazer pequenos trabalhos, acho que vai ser legal, pois dá para comprar pequenos cortes. Muuuuuito obrigado pela dica.

    • Bruna Gullaci
      17 de março de 2016 at 15:19

      Rô, você tem que ir lá, vai adorar!
      ;)